Por que Belém do Pará encanta viajantes curiosos
Belém do Pará é uma das portas de entrada para a Amazônia brasileira e um destino que conquista pela mistura de história, cultura e, principalmente, gastronomia típica. Quem visita a cidade rapidamente percebe que a comida do Pará é diferente de tudo que existe no restante do país: sabores intensos, cheiros marcantes, ingredientes desconhecidos para muitos brasileiros e uma forte presença indígena em cada receita.
No coração dessa experiência está o Mercado Ver-o-Peso, às margens da Baía do Guajará. Mais do que um simples mercado municipal, ele é um verdadeiro patrimônio vivo, onde se encontram peixes amazônicos frescos, frutas exóticas, ervas medicinais, artesanato regional e uma infinidade de produtos ligados à floresta. Para quem deseja entender a cultura amazônica por meio dos sentidos, o Ver-o-Peso é parada obrigatória.
Mercado Ver-o-Peso: história, tradição e cotidiano de Belém
O Mercado Ver-o-Peso é considerado um dos mercados públicos mais antigos do Brasil. Sua origem remonta ao período colonial, quando a Coroa portuguesa cobrava impostos sobre as mercadorias que chegavam à cidade. O nome “Ver-o-Peso” vem justamente desse controle fiscal: era ali que se “via o peso” das cargas que vinham pela baía, principalmente produtos extraídos da floresta amazônica.
Hoje, o mercado é um complexo que ocupa uma ampla área às margens do rio. A estrutura mais famosa é o galpão de ferro com torres pontiagudas, de inspiração europeia, inaugurado no fim do século XIX. Ao redor, se espalham centenas de barracas e feiras a céu aberto, formando um labirinto de cores, aromas e sons. Caminhar pelo Ver-o-Peso logo nas primeiras horas da manhã é acompanhar o cotidiano de Belém em ritmo acelerado: barcos descarregando peixes e frutas, compradores negociando preços, cozinheiras escolhendo ingredientes para o almoço.
Sabores amazônicos: o que provar em Belém do Pará
A gastronomia paraense é um grande diferencial de Belém. Pratos tradicionais, como tacacá, maniçoba e pato no tucupi, são presenças garantidas tanto em restaurantes renomados quanto nas barracas simples do Ver-o-Peso. A culinária mistura técnicas indígenas, ingredientes amazônicos, influências portuguesas e africanas, criando uma cozinha rica e complexa.
Entre os principais pratos e produtos típicos que você encontra em Belém e no Mercado Ver-o-Peso, vale destacar:
- Tacacá: caldo quente feito com tucupi (caldo extraído da mandioca brava), goma de tapioca, jambu (erva que dá leve formigamento na boca) e camarão seco. É servido em cuias e consumido principalmente no fim da tarde.
- Pato no tucupi: um dos símbolos da culinária paraense, levado tradicionalmente à mesa no Círio de Nazaré. O pato é cozido em tucupi temperado com alho e ervas, acompanhado de jambu e servido com arroz e farinha.
- Maniçoba: preparo demorado feito com folhas de mandioca moídas e cozidas por vários dias, até perderem a toxidade natural. A mistura leva carnes de porco defumadas e lembra, em aparência, uma feijoada verde.
- Açaí paraense: diferente do açaí consumido no Sudeste do Brasil, aqui ele costuma ser batido puro, mais grosso e menos doce, servido acompanhado de farinha d’água e peixe frito ou camarão seco. No Ver-o-Peso, você encontra casas especializadas no fruto.
- Peixes amazônicos: tambaqui, pirarucu, filhote, pescada, dourada e tantos outros aparecem grelhados, cozidos ou fritos. O Mercado Ver-o-Peso é o melhor lugar para ver a variedade de peixes da região.
- Farinha e derivados da mandioca: farinha d’água, farinha de tapioca, goma de tapioca, beijus. Muitas famílias paraenses preferem comprar farinha diretamente dos produtores que vendem no mercado.
Ao explorar Belém e seus restaurantes, o viajante se dá conta de que a cozinha amazônica vai muito além do exotismo: ela é expressão de uma relação histórica entre o povo e a floresta, e o Mercado Ver-o-Peso funciona como uma vitrine desse universo.
Frutas amazônicas: um festival de cores e aromas
Uma das experiências mais marcantes para quem visita o Ver-o-Peso é o contato com as frutas regionais. Muitos viajantes veem pela primeira vez, ali, frutos que dificilmente chegam às grandes capitais do Sudeste e do Sul. A oferta varia de acordo com a estação, mas alguns nomes se repetem ao longo do ano.
- Bacuri: casca grossa e polpa branca, ácida e muito perfumada. É usado em sorvetes, doces, geleias e sucos.
- Cupuaçu: de sabor intenso e levemente ácido, perfeito para sucos, cremes e bombons. O aroma forte é inconfundível.
- Taperebá (cajá): fruta pequena, amarela, com polpa suculenta e bastante ácida, ideal para sucos bem gelados.
- Graviola: embora conhecida em outras regiões, ganha destaque na Amazônia com sucos cremosos e sorvetes.
- Bacaba, tucumã, buriti: frutos de palmeiras amazônicas, usados em bebidas, pratos salgados e sobremesas.
Nas barracas do mercado, as frutas aparecem frescas, em polpas congeladas, doces caseiros, licores e sorvetes artesanais. Para quem busca souvenires comestíveis, levar algumas polpas de frutas amazônicas é uma forma de prolongar a experiência gastronômica depois da viagem.
Ervas, raízes e produtos medicinais no Ver-o-Peso
Além de fruta e peixe, o Mercado Ver-o-Peso é famoso por sua seção de ervas, raízes e óleos medicinais, ligada às tradições populares da Amazônia. Muitas barracas exibem garrafas com líquidos coloridos, pacotinhos de folhas secas, raízes cortadas e cascas de árvores, vendidos para diferentes finalidades: da cura de dores às simpatias amorosas.
Ali é possível encontrar:
- Ervas medicinais amazônicas, usadas em chás e banhos, associadas à cura de gripes, dores musculares, problemas digestivos, entre outros.
- Óleo de andiroba, copaíba e outras resinas, tradicionalmente indicados para massagens, cicatrização e inflamações leves.
- Banhos de cheiro, misturas de essências, flores e ervas, ligadas a rituais de limpeza e proteção espiritual.
- Garrafadas e xaropes caseiros, preparados com mel, raízes e cascas, muito presentes na medicina popular amazônica.
Para quem tem interesse em fitoterapia e em produtos naturais, essa parte do Ver-o-Peso é particularmente rica. É importante, no entanto, ouvir as explicações dos vendedores com atenção e, em caso de uso medicinal, sempre consultar um profissional de saúde.
Artesanato paraense: lembranças autênticas da Amazônia
Belém do Pará também é um ótimo destino para compras de artesanato regional. No Mercado Ver-o-Peso e em feiras próximas, como a Feira de Artesanato da Praça da República (aos domingos), é possível encontrar peças produzidas por comunidades ribeirinhas, indígenas e artesãos urbanos.
Entre os produtos mais procurados estão:
- Biojoias: colares, pulseiras e brincos feitos com sementes amazônicas, fibras naturais, madeira de manejo sustentável e até escamas de peixe.
- Arte indígena: cestos trançados, cerâmicas, colares tradicionais e peças decorativas que refletem a estética e a cosmologia de diferentes povos.
- Produtos de látex e borracha: bolsas, acessórios e objetos inspirados na tradição seringueira.
- Toalhas, redes e peças têxteis, muitas vezes coloridas e com bordados inspirados na flora e fauna amazônicas.
Comprar diretamente dos artesãos é uma forma de apoiar a economia local e levar para casa lembranças que carregam histórias da região. Em muitos casos, o próprio vendedor explica a origem das peças, o material utilizado e a comunidade que as produziu.
Dicas práticas para visitar o Mercado Ver-o-Peso
Para aproveitar ao máximo a visita ao Ver-o-Peso, vale considerar alguns cuidados e estratégias simples:
- Chegar cedo: o movimento começa ainda de madrugada, mas entre 7h e 9h da manhã é quando o mercado está mais vibrante, com peixes frescos, frutas chegando e vendedores animados.
- Ir com roupas leves: Belém é quente e úmida durante todo o ano. Roupas confortáveis, chapéu e protetor solar fazem diferença.
- Levar dinheiro em espécie: muitas bancas ainda não aceitam cartão. Para pequenas compras de frutas, artesanato e lanches, o pagamento em dinheiro é mais prático.
- Negociar com respeito: a pechincha faz parte da cultura de mercado, mas é importante manter o respeito e reconhecer o valor do trabalho dos vendedores.
- Cuidar dos pertences: como em qualquer grande mercado popular, é bom atenção com bolsas, celulares e documentos, principalmente em horários de maior movimento.
- Experimentar com curiosidade: provar um tacacá, um suco de fruta desconhecida ou um doce típico faz parte da experiência de viagem.
Quando ir a Belém e combinar a visita com outras experiências
Belém do Pará pode ser visitada durante todo o ano, mas a cidade ganha um significado especial em outubro, durante o Círio de Nazaré, uma das maiores festas religiosas do Brasil. Nesse período, o Mercado Ver-o-Peso também fica mais movimentado, pois muitos pratos típicos, como o pato no tucupi e a maniçoba, são preparados em larga escala para as celebrações.
Além do Ver-o-Peso, vale combinar a viagem com outros pontos de interesse em Belém e arredores, como:
- Museu Paraense Emílio Goeldi, dedicado à biodiversidade e às culturas da Amazônia.
- Estação das Docas, complexo turístico às margens da baía, com restaurantes, bares e vista para o pôr do sol.
- Basílica de Nazaré, centro das celebrações do Círio.
- Ilha do Combu, acessível de barco, famosa por seus restaurantes ribeirinhos e pela produção artesanal de chocolate com cacau amazônico.
Para quem deseja se aprofundar ainda mais nos sabores amazônicos, muitos viajantes aproveitam para adquirir ingredientes no Ver-o-Peso — como farinhas, temperos, pimentas, polpas de frutas e até utensílios de cozinha — e levar para casa uma pequena amostra do que viveram em Belém.
Visitar Belém do Pará e caminhar entre as bancas do Mercado Ver-o-Peso é abrir espaço para a descoberta: de novos sabores, cheiros, cores e histórias. Em cada cuia de tacacá, em cada sacola de frutas amazônicas, em cada peça de artesanato, está a síntese de uma cidade que se orgulha de sua identidade e convida o visitante a se deixar envolver pela Amazônia.
